terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Getulio Damado

Getúlio Damado, mineiro de descendência italiana, acredita que de sua família materna de oleiros e marceneiros , herdou seu dom de artesão, escolheu o bairro de Santa Teresa para estabelecer a sua banca- oficina de conserto de panelas.De seu posto, via passar o bonde, ladeira acima, ladeira abaixo, observando-o em câmera lenta, de frente e de costas, vazio nas horas prioritariamente domésticas, lotado pela manhã, na hora do almoço e no final da tarde. A imagem dos bondinhos amarelos com corações vermelhos, Getúlio deseja reproduzi-los. Considerando-se péssimo desenhista decide construí-lo em sucata, brinquedo ou enfeite, meio de transporte, em escala reduzida, para seus sonhos, para sua carreira artística.Entre a colocação da alça numa chaleira e o conserto do fundo de uma panela, o primeiro bonde sai rústico, algumas tentativas adiante, seus bondes passam a despertar a atenção dos moradores, e Getúlio começa a receber propostas de compra. Foi o quanto bastou para ele liberar de vez o artista que aguardava para ganhar mundo.Com a prática, Getúlio passou a experimentar escalas maiores, mas pequenos ou grandes, são sempre feitos com aproveitamento de material que encontra pelas ruas, caixotes, sobras várias que os amigos levam até sua banca, brinquedos, objetos e guarda-chuvas quebrados, em fim, sucata. Comprados, mesmo, só tinta e pregos.Getúlio ampliou sua a produção: carros, caminhões, casinhas mobiliadas de boneca começaram a aparecer, além dos bonecos, todos batizados segundo sua inspiração ao término da confecção. Por essas figuras, que muitas vezes coloca nos estribos dos bondes, ele tem um carinho especial, admirando-lhes a utilidade, pois usa os bonecos também como sinaleiros, idéia que lhe ocorreu por acaso.Na banca de Getúlio, encostada em uma árvore, na rua Leopoldo Fróes, uma ladeira, paralela à Almirante Alexandrino, fica seu material e instrumental de trabalho, composto tanto de ferramentas usuais, como alicate, martelo, tesoura de cortar folha-de-flandres , quanto outras, improvisadas, como um pedaço de trilho de bonde para bater ferro, uma engenhoca para funilaria, facas velhas, facões entre outras ferramentas inventadas.Getúlio, nos seus 50 e poucos anos orgulha-se de ter feito com amor, tudo o que lhe foi possível; e confia nos valores e padrões que ainda repassa aos filhos. Artisticamente sente-se realizado, embora em processo contínuo de aperfeiçoamento e busca de complementação de sua obra.(Texto extraído da publicação do Museu do Folclore Edison Carneiro, ano 2000."Veja, Ilustre Passageiro- Bondes de Getúlio Damado")

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